Os anos se passam e muitas canções ficam no limbo da memória, mas despertam com força ao acaso.
Formada em 1986 no Rio de Janeiro, a Hanói-Hanói alcançou em curto tempo destaque entre as bandas do chamado BRock, nome convencionado na grande imprensa para identificar os muitos grupos que despontaram nacionalmente durante a ebulição do rock feito no Brasil na década de 1980. Por não conhecer sua história pregressa, não tenho receio de dizer que, para mim, o grupo nunca foi referência no underground brasileiro, circuito que comecei a acompanhar na adolescência, por meio de fanzines e fitas cassetes.
Ao contrário da Hanói-Hanói, que escutei pela primeira vez na Rádio Transamérica de Brasília, onde trabalhei como office-boy, foi através dos fanzines que ouvi pela primeira vez grupos que trilharam árduos caminhos até conseguirem ver suas canções veiculadas em emissoras de rádio. Mesmo assim a banda carioca de pop-rock sintetizou em uma canção versos expressivos sobre o que considero, em coro com o meu amigo Fellipe CDC, "a espinha dorsal do underground", ou seja, os fanzines.
Neste blog costumo fazer comentários sobre artistas do DF e Entorno e figuras que movimentam o underground local. O que me levou ao encontro da velha canção "Fanzine", da banda carioca Hanói-Hanói, foi a leitura de uma matéria postada no site da banda brasiliense Plebe Rude, que fala sobre artistas de visibilidade na grande mídia e que voltam ao circuito alternativo após o estrelato, com desenvoltura dos que sabem viver a vida com personalidade, em diferentes fases. O texto, transcrito de uma matéria da Folha de São Paulo, reconhece: "As bandas que sobreviveram têm que voltar a batalhar no circuito underground (correr atrás de shows, gravadora e por aí vai)."
Em todo o Brasil, temos exemplos de bandas que retornam ao circuito underground, ou que jamais saíram dele, mas resistem por anos tocando para plateias fieis. No primeiro caso, se por um lado somem da mídia convencional, muitos grupos continuam em destaque nas matérias de fanzines e mantêm público cativo. No DF e Entorno não é diferente. Em 2012, tomando cerveja em um bar da CNF, em Taguatinga, de repente me dei conta que estavam no mesmo estabelecimento duas lendas do rock candango dos anos 1980: Félix Amorim, da banda Cinco Generais; e Alex Podrão, da Detrito Federal. O circuito underground é realmente a casa dos que não abandonam o rock como estilo de vida. Os fanzines são, por conta do modo de vida dos próprios editores e leitores, o meio que reporta, com propriedade, atividades de artistas longe dos holofotes, mas com muito a contribuir (sempre e sempre) para a cena local. Falo aqui sobre fanzines estendendo o papel das velhas publicações xerocadas aos blogs e fanpages, com conteúdo confiável.
Pela resistência de faneditores e artistas, adorei ouvir após tantos anos a canção "Fanzine", assinada pela dupla Arnaldo Brandão / Tavinho Paes. Essa canção, é bom citar, dá nome ao segundo LP da banda Hanói-Hanói, lançado EM 1988 pelo selo SBK/CBS. Confira os versos a seguir, com direito a link para ouvir a interpretação musical.
(Tomaz André, Zine Oficial)
Fanzine
(banda Hanoi-Hanoi)
Ninguém fica burro demais só porque viu TV
As flores do mal são cogumelos de néon glacê
A juventude tem um tempo certo pra se corromper
O anarquismo é o anjo da guarda de todo prazer
As flores do mal são cogumelos de néon glacê
A juventude tem um tempo certo pra se corromper
O anarquismo é o anjo da guarda de todo prazer
E tome zine, zine, zine, zine, zine em papel de xerox
O futuro é preto e branco, e todo branco e preto pode ter
E tome zine, zine, zine, zine, zine em papel de xerox
Vem do fanzine, novo papo, nova onda, novo ABC
O futuro é preto e branco, e todo branco e preto pode ter
E tome zine, zine, zine, zine, zine em papel de xerox
Vem do fanzine, novo papo, nova onda, novo ABC
A camisinha anti-AIDS fez a deusa Vênus virar punk
O cantor de yê-yê-yê comportado é um cafajeste junk
Chegou a hora do alimento ser todo natural
Os vermes da terra apreciam um corpo legal
O cantor de yê-yê-yê comportado é um cafajeste junk
Chegou a hora do alimento ser todo natural
Os vermes da terra apreciam um corpo legal
No país da Xuxa os vampiros usam fio dental
A ditadura justifica o bem, praticando o mal
Um dia as palavras não vão mais deslizar pela boca
A utopia vai ser a loucura de um guru-porra-lôca
A ditadura justifica o bem, praticando o mal
Um dia as palavras não vão mais deslizar pela boca
A utopia vai ser a loucura de um guru-porra-lôca
Desejo quando não se arrisca é provocação
Liberdade faz gato e sapato da proibição
A beleza dá a volta ao mundo e a chuva cai
Meu amor cabe em três versos de um hai-kai
Liberdade faz gato e sapato da proibição
A beleza dá a volta ao mundo e a chuva cai
Meu amor cabe em três versos de um hai-kai
Para ouvir a música Fanzine,
da banda carioca Hanói-Hanói, acesse: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=hTT9u41hsIo
Para saber sobre shows de rock
que rolam no DF e Entorno,
acesse www.zineoficial.com.br
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