terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ruído e chuvisco na TV paga: Antene-se!

Este assunto é interessante para bandas e artistas independentes. Com o cumprimento correto das cotas estabelecidas para produções nacionais na nova Lei de TV por assinatura, seus trabalhos poderiam ser melhor divulgados. Não é só quem se diverte vendo TV que ganha: a reserva de cotas gera emprego e renda para artistas, técnicos e produtores brasileiros, entre outros profissionais beneficiados.

Capa da Revista Instituto
Telecom número 5.

Editorial da publicação destaca
"jeitinho" para cumprir cotas
para programação nacional
n
as TVs por assinatura.
Se você anda com raiva dos serviços de banda larga e TV por assinatura, saiba que ao menos uma ponta do novelo começa a ser desatada, ainda que lentamente: muita coisa rola nas telas de TV  além da programação que vemos. Para entender com mais clareza o conteúdo das emissoras pagas, é preciso ver além do canal que você assinou... Se nem tudo é bom, saiba que a ruindade é por causa de dinheiro, ou melhor, por falta dele!

Através de um link compartilhado na internet, fiquei curioso ao ponto de ler até o final a matéria “Nova lei de TV por Assinatura: conteúdo nacional, realidade, ou ficção?”. A matéria é destacada como opinião do Instituto Telecom, o qual descobrir ser uma entidade surgida a partir de 1990 no meio sindical dos trabalhadores em telecomunicações do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu a poderosa Rede Globo. Digo isso porque o Instituto Telecom acentua que durante anos a Globo, acredito que para manter de forma predatória a liderança na produção de telenovelas, filmes e séries, bloqueou e monopolizou o acesso a conteúdos nacionais, até ser obrigada a sair do controle das operações de TV a cabo da NET e de TV via satélite da Sky por conta da nova lei do SeAC, que proíbe um mesmo controlador de ter licenças de radiodifusão e de TV paga. O Instituto, no entanto, questiona o fim do monopólio: “quem pode provar que as Organizações Globo, mesmo na atual condição de sócia minoritária, não continuam exercendo seu antigo direito de veto ao conteúdo nacional na NET e na SKY?”

Apesar do destaque, conclui lendo a matéria da Revista Instituto Telecom número 5 que a Globo não é a única culpada no boicote à produções independentes. Existe um veto financeiro estabelecido pelo mercado. As operadoras dão um jeitinho para cumprir a programação nacional estabelecida pela nova Lei de TV por Assinatura, celebrando contratos com canais que aceitam imposições para manter-se em atividade com produções baratas, sem preocupações maiores com a qualidade do que é veiculado, muitas vezes de olho na venda de produtos e serviços para públicos cativos. Nessa lista provavelmente entram canais de igrejas, academias, clínicas de emagrecimento, etc, veiculados como "canais cortesia". Nada contra esses segmentos terem seus canais. No entanto, as cotas estabelecidas pela nova Lei de TV por assinaturas não vão além por falta de remuneração justa.

O texto do site do Instituto Telecom é bastante informativo, porém meio truncado para quem não está familiarizado com os debates por uma programação nacional de qualidade nas TVs pagas, sem ferir o direito dos assinantes de optarem por filmes e séries estrangeiras, geralmente mais difundidos pela mídia e mais baratas para veiculação, o que torna o custo-benefício para as operadoras bem mais atrativo. Resolvi traduzir no popular o que absorvi da opinião do Instituto:

A nova Lei da TV por Assinatura é considerada como o primeiro passo em direção ao Marco Regulatório das Comunicações, documento esperado há anos para por ordem na zorra que os donos dos meios de comunicação vêm aprontando no Brasil (na minha opinião os serviços de internt, telefonia e TV por assinatura são os exemplos mais acentuados dessa zorra...).

Durante o processo para regulamentação da falada nova Lei da TV por Assinatura, após cinco anos de luta, os movimentos sociais ligados às comunicações obtiveram uma importante vitória, com a instituição de cotas de programação de conteúdo nacional e independente, bem como reserva de canais para programadoras independentes nacionais.

A reserva de cotas é uma das principais determinações da nova Lei da TV por Assinatura, haja vista que a mesma estabelece os termos dos serviços de telecomunicações de interesse coletivo prestados por empresas privadas. Assim sendo, para ter direito de operar no mercado brasileiro, empresas como Vivo TV, Oi TV, CTBC e DTH Family, entre outras, devem, por determinação legal, reservar parte do conteúdo veiculado em seus canais para produções nacionais. Não é só quem se diverte vendo TV que ganha: a reserva de cotas gera emprego e renda para artistas, técnicos e produtores brasileiros, entre outros profissionais beneficiados. Entende-se que essa cota pode ser cumprida também com contratos firmados entre as operadoras e programadoras nacionais credenciadas, que mantenham canais próprios. As remunerações desses canais ficariam estabelecidas em contratos. No entanto, o cumprimento das cotas segue feito nas coxas.

Na mesma semana da regulamentação da nova lei da TV por Assinatura, as programadoras nacionais credenciadas para cumprimento das cotas tornaram público que operadores pagam pela veiculação de sua programação valores abaixo do mínimo necessário para a manutenção de um canal. Segundo o Instituto Telecom, “A justificativa apresentada por quatro diferentes grupos de operadoras para o não carregamento de canais de cotas inclui, entre outras coisas, altos preços (entre aspas) cobrados pelos canais credenciados e a falta de opção de canais para escolher. Mas, como incentivar a existência desses canais se não há um valor condizente com a realidade dos custos da produção nacional?” A indagação do Instituto é plausível, afinal de contas, a produção estrangeira, distribuída em grande escala em todo o mundo, chega mais barata ao Brasil.

O custo da produção nacional sempre foi usado pelas grandes emissoras comerciais para justificar suas programações recheadas com filmes e séries estrangeiras: “Sempre houve bloqueio da grande mídia até a Lei 12.485 entrar em vigor e tornar obrigatória a cota com o objetivo, justamente, de impulsionar a expansão do mercado audiovisual brasileiro”. Processo que poderia tornar a produção nacional mais barata e mais competitiva.

Um canal de TV por assinatura ganha dinheiro de duas maneiras: uma delas é a publicidade, caso o número de assinantes do canal seja considerado relevante pelo mercado publicitário; a outra fonte de receita da TV por assinatura, lógico, vem de quem paga para assistir aos programas. A maioria dos canais nacionais ainda não possui veiculação para uma base expressiva de assinantes, já que expansão do mercado audiovisual brasileiro sofre bloqueio econômico das grandes operadoras que o veiculam, pagando centavos por cada assinante do canal, o que inviabiliza investimentos nas produções que poderiam alavancar novas assinaturas. A pouca audiência, aliás, mantém baixo o pagamento que as operadoras têm que fazer aos canais independentes para cumprimento das cotas estabelecidas em lei. Com a estagnação, os canais pequenos mal sobrevivem com a remuneração das operadoras e não consegue audiência para viver de publicidade. É um círculo sufocante, que só pode ser quebrado com intervenção determinada de órgãos como Agência Nacional de Telecomunicações, Agência Nacional de Cinema e até mesmo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, na fiscalização dos contratos entre operadoras e canais.

Citando na íntegra um parágrafo veiculado no site do Instituto Telecom, “O canal CineBrasilTV, por exemplo, resistiu durante mais de 8 anos ao bloqueio de acesso existente na TV paga sendo veiculado a uma base insignificante de 1,3% do mercado total. No entanto, segundo a cineasta e diretora do canal, Tereza Trautman, dois meses depois das cotas terem entrado em pleno vigor, estava a ponto de encerrar suas transmissões por falta de veiculação que lhe desse um mínimo de sustentabilidade. Recentemente, o canal, passou a possuir quase 6 milhões de assinantes, ao conseguir fechar contrato com a SKY, mas a sua receita total é comparativamente (sem reajuste inflacionário) inferior ao que recebia em 2005, quando possuía somente 500 mil assinantes.” Trocando em miúdos: As operadoras impõem aos canais independentes um valor irrisório por assinante, valor esse suficiente apenas para manter o canal no ar e cumprir as cotas de veiculação de produções nacionais, estabelecidas na nova Lei de TV por Assinatura.” Em paralelo, creio eu, as operadoras ganham em cima dos assinantes, enquanto os canais nacionais não conseguem aumentar o fluxo de caixa para reinvestir na produção. Mas porque isso acontece?

Na matéria veiculada no site do Instituto Telecom, a diretora do CineBrasilTV revela que um canal concorrente quebrou o mercado para entrar em cena e conseguir assinantes, topando um valor inexequível para produção nacional de qualidade. Diante do exposto, a impressão que fica é que alguns canais pequenos acabam celebrando contratos apenas para permanecer em atividade, talvez de olho no mercado publicitário futuro. Com isso as operadoras mantém a cota estabelecida em lei, pagando o que bem entendem para a produção nacional, abaixo dos custos reais. O canal citado como exemplo dessa prática se propõe ao cumprimento de 12 horas por dia de produção independente com preço irrisório, ao ponto de ser comparado a um “canal cortesia”. Na avalição do Instituto Telecom, “embora esses canais se utilizem do espaço proporcionado pela nova lei de TV por Assinatura para expandir o seu comércio, agravam a condição de negociação dos demais canais brasileiros com a oferta de preços muito abaixo da média nacional”. A diretora do CineBrasilTV e cineasta Tereza Trautman, entrevistada pelo Instituto Telecom, levantou uma questão polêmica: “Levar os canais de cotas à inviabilidade econômica não é uma outra forma de bloqueio?"

Para acabar com o bloqueio econômico ao crescimento dos canais voltados para a produção artística nacional, e não para fortalecimento de canais publicitários favorecidos pela deturpação das cotas estipuladas na nova Lei de TV por Assinatura, interpreto de maneira positiva o posicionamento do Instituto Telecom, de que os órgãos competentes devem exigir acesso aos contratos assinados entre “programadoras e empacotadoras” e fiscalizar as propostas que estão sendo negociadas para o cumprimento das cotas: “Que preço está sendo praticado pelas operadoras? E que valores são pretendidos por esses canais? Também é urgente uma regulamentação mais detalhada do canal de 12 horas diárias de veiculação da produção independente. Só assim será possível que esses canais e principalmente a produção independente consigam alcançar uma mínima sustentabilidade econômica, conforme o objetivo dessa lei. O cenário da nova lei de TV paga ainda é extremamente delicado. NET, Claro e SKY representam juntas 85% do mercado total e estão longe de cumprirem as cotas de canais. Além disso, em poucos dias, o STF ouvirá a sociedade civil em oitiva que dará início ao julgamento das Adins (Ação Direta de Inconstitucionalidade) interpostas por partidos políticos como o DEM contra as cotas previstas na lei e a Ancine como autoridade do audiovisual.”





segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Rock do DF em luto

Através de postagem em seu perfil no Facebook, Fábio Guedes Frajola comunicou o falecimento de Clarice Onuki, que por muitos anos apoiou o rock do DF e Entorno e abriu as instalações de sua loja em Taguatinga para colagem de cartazes, distribuição de panfletos e venda de ingressos para shows, grandes ou pequenos. Ao longo dos anos, a loja fundada por Clarice, inicialmente com o nome Porão 666, tornou-se ponto de encontro de artistas e frequentadores da cena rock local. 

Abaixo, a nota de Frajola, ex-funcionário da Porão Rock Wear,  lamentando a morte da empresária:

"Amigos, é com imenso pesar, que anuncio o falecimento de Clarice Onuki, fundadora da loja Porão Rock Wear. Clarice faleceu dia 26 de janeiro de 2013 pela manhã, após perder uma dura batalha contra o câncer. A Dona Clarice, como era carinhosamente chamada pela maioria que frequenta a loja Porão, foi um exemplo de dedicação e empenho, em todos os anos que esteve à frente da loja. Para mim, ela foi mais que uma patroa. Foi uma amiga, uma conselheira, e uma incentivadora, por cerca de mais de dez anos, período em que trabalhamos juntos. O Underground do DF está de luto. No entanto, tem a certeza de que a D. Clarice descansa em paz, de forma tranquila e serena!" (Fábio Guedes Frajola, em mensagem pelo Facebook)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

“Cinquenta contos” para gastar com cultura ou com porcaria editorial

Iniciando a segunda quinzena de 2013, foi sancionada uma boa lei para quem gosta de ler, ir ao cinema, teatro e shows. No entanto, a notícia chegou distorcida aos meus olhos na tela do computador, com a seguinte manchete: “Pode comprar ‘revista porcaria’, diz Marta sobre uso do vale-cultura”. 


A Ministra da Cultura, Marta Suplicy, já falou muita besteira, é verdade. Há quem brinque que talvez seja influência de vocabulário recorrente nos tempos em que exercia a especialidade de sexóloga. Mas reforçar algumas intempéries que saem de seu vocabulário para ridicularizar o que ela falou como Ministra de Estado no dia 17 de janeiro de 2013 foi maldade.


Com a manchete iniciada com a frase “pode comprar revista porcaria’’ o site G1, das Organizações Globo (onde, aliás, Marta foi apresentadora de TV nos anos 1980), distorceu negativamente as benesses que podem vir com a regulamentação da lei do vale-cultura. Muita gente leu a manchete e se empenhou logo em protestar contra a Ministra. Raul Seixas já dizia: “Falta cultura pra cuspir na estrutura’’. O Maluco Beleza foi profético mais uma vez. A turma da “REB-REB-rebeldia de yê, yê, yê”, em tempos de forró universitário e mídia eletrônica, se engasgaria com a saliva, caso resolvesse ler toda a matéria sobre a sanção da lei de incentivo cultural. No Facebook, por exemplo, uma legião compartilhou o link da matéria, descendo o pau na Marta, sem saber ao certo o contexto do que ela estava dizendo. Destacar a notícia de fato com o título “Pode comprar ‘revista porcaria’, diz Marta sobre uso do vale-cultura”, foi maldade do redator, seja para impactar negativamente a imagem da Ministra, seja para chamar a atenção para a matéria. Aliás, para usar uma palavra maliciosamente associada à ministra-sexóloga, a manchete do site G1 não foi só maldade, foi  SACANAGEM!


No corpo da matéria o site esclarece que o vale-cultura vai conceder “R$ 50 por mês para quem ganha até cinco salários mínimos. Beneficiário pode comprar livro, revista, ingresso para cinema, entre outros.” Ainda segundo o texto do site G1, “somente receberão o benefício os empregados das empresas que aderirem ao projeto, e o trabalhador terá um desconto de até 10% (R$ 5) do valor do vale. O funcionário pode optar por não receber o valor. Cerca de 17 milhões de pessoas estão aptas a receber o vale, de acordo com a ministra”.


Lendo as informações até o final, fiquei sabendo que Marta Suplicy garantiu que a lei do vale-cultura será regulamentada até 26 de fevereiro de 2013, com texto preliminar. Com tantas coisas a destacar na matéria, o site G1 preferiu distorcer as declarações impetuosas da Ministra no título. O que Marta realmente disse foi transcrito com mais seriedade para quem se dispôs a ler todo o texto do site: “o trabalhador decide se quer comprar revista porcaria ou não. Se ele quiser comprar revista de quinta categoria, assim ou assado, pode. Vai poder comprar o que quiser. O bom disso é a liberdade do trabalhador. Ele vai fazer o consumo como ele desejar".


Como se lê, a distorção de fatos e declarações parece ser regra (ou ordem superior) para determinados redatores. Maldade, maldade. Sacanagem, sacanagem.  (Tomaz André, Zine Oficial)



Ao lado, fac-símile do site das Organizações Globo, que destaca pejorativamente frase da Ministra da Cultura, ao invés de destacar méritos da lei de incentivo à cultura. No corpo da matéria, informações sobressaem-se ao sensacionalismo. Quem quiser, pode conferir o texto do G1 na íntegra, através do link: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2013/01/pode-comprar-revista-porcaria-diz-marta-sobre-vale-cultura.html