segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Rock in Rio 1985-2013: Falar "SOBRE Raul" é complicado. Falar "POR Raul" é mais complicado ainda!

Embora gostasse de esteriótipos,
Raul era dono dos próprios protestos.
tenho dúvidas quanto a um comentário 
do vocalista Tico Santa Cruz, 
quando o homem de frente da banda 
Detonautas afirmou no Rock in Rio 2013 
que "se Raul estivesse estaria nas ruas 
se manifestando com o povo brasileiro",
referindo-se ao coro puxado pelos 
Amigos e conhecidos na cena roqueira do DF e Entorno divergiram nas redes sociais, publicando ou elogios ou pesadas críticas à banda brasiliense Capital Inicial por sua desenvoltura no Rock in Rio 2013. Mas o que mais inspirou debates nos meus círculos de amizade na internet foi uma homenagem a Raul Seixas, roqueiro baiano, que fez o último show de sua carreira em Brasília, pouco antes de morrer em 1989.

Tive a oportunidade de assistir a três shows do meu ídolo, Raul Seixas, aqui em Brasília, justamente em 1989. Quando a homenagem é sincera, lembrar Raul é sempre bom, no meu ponto de vista. E como disse o próprio Raul: “O ponto de vista é que é o ponto da questão”.  A banda Detonautas, que encabeçou o tributo a Raul no Rock in Rio 2013, já fez outras homenagens ao cantor, antes desta. Acho que a homenagem da banda foi, antes de tudo, sincera. No entanto, tenho dúvidas quanto a um comentário do vocalista Tico Santa Cruz, quando o homem de frente da banda Detonautas afirmou que "se Raul estivesse vivo estaria nas ruas se manifestando com o povo brasileiro".

Raul era dono dos próprios protestos. Ele evitava aderir aos gritos da moda. E quando o fez arrependeu-se. A letra da música Diamante de Mendigos deixa isso claro, na reflexão “sofro as consequências de atitudes que tomei por acreditar em verdades ignorantes/ que na época tomei acreditando numa moda passageira que se foi tal qual fumaça...” Tudo bem. O contexto da canção era sobre família, mas pode ser transferido para o campo político, baseado em versos de inúmeras outras canções ao longo da carreira do Maluco Beleza.

Raul Seixas e a Zorra do Rock do Brasil 

Mas, voltando à homenagem a Raul Seixas no Rock in Rio 2013, repito que lembrar Raul é sempre bom! Mesmo que seja no Rock in Rio. Digo isso porque em vida Raul recusou o convite do produtor Medina para se apresentar em 1985, na primeira edição do mega festival. Em entrevista concedida em 1987 à revista Zorra – O rock do Brasil, o entrevistador quis saber: “Muita gente questiona a sua não participação no Rock In Rio em 1985... Afinal, você foi ou não foi convidado? Se foi, porque não se apresentou?”. A resposta de Raul foi direta, dizendo exatamente: “Fui chamado sim. Não aceitei o convite porque eu não quis fazer papel de palhaço”.  É verdade que muitos outros fatores também pesaram na decisão de Raul, mas a mais forte foi a de se preservar, não tocando para um público que não sabia direito o que era rock e que talvez pudesse até vaiar o Maluco Beleza. Raul declaradamente traria no repertório a verve tradicional e genuinamente rock´n roll de sua formação artística (meu ídolo Raul estava "fora de moda" naquela época, que via ganhar força o heavy metal e bandas com influência new wave). Para justificar suas palavras, Raul explicou que se o festival fosse de música em geral ele aceitaria tocar, mas se era um festival de rock, tinha quetocar só rock. Na sua avaliação, muitos artistas convidados não tinham identidade com o rock e o próprio público demonstrava não entender o que seria um festival desse porte, voltado somente para o rock. (A entrevista foi dividida em duas partes e publicada em dois números da revista Zorra – O rock do Brasil. Guardo essas revistas desde que as comprei em 1987!)



Desde a primeira edição, Rock in Rio fez salada musical


Imagem copiada da linha do tempo do meu amigo Fábio Guedes Frajola, que comentou o seguinte em sua postagem no Faceboock:  - Pra galera que reclama e diz: "Por que fizeram isso com o Rock in Rio? Estragaram o festival com essas atrações que não são Rock!”.  Frajola (vocalista da banda brasiliense Seconds Of Noise) declara ainda:  "Até o início dos anos 1990 era possível fazer um festival só com bandas de Rock. Basta lembrar dos shows que tocávamos no DF. Só banda local, e show lotado. Hoje, temos que fazer shows em locais para no máximo 100 pessoas, senão parece que não tem ninguém!"

Com a programação do festival cada vez mais "eclética" e "midiática", quem sabe se Raul Seixas estivesse vivo em 2013, atenuasse suas críticas sobre as atrações do primeiro Rock in Rio, em 1985?! Ou quem sabe, se estivesse vivo, quisesse se matar ao ver que a programação inclui axé music e outros ritmos? Bom... Isso só o Raul poderia responder.

Para finalizar, quero deixar uma pulga atrás da orelha de quem criticou a homenagem a Raul Seixas no Rock in Rio 2013, em específico pela interpretação de algumas músicas por artistas como Zeca Balero: por volta de 1986, 1987, a banda Defalla gravou uma versão de como Vovó Já Dizia, com inserção de recursos eletrônicos, uma novidade na época. Grande parte dos fãs de Raul, inclusive eu, recebeu com ressalvas e até indignação a versão feita pela banda Defalla. Mas Raul adorou...

(Tomaz André, Zine Oficial - www.zineoficial.com.br )